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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Você pode reinventar o mundo

É preciso perder o medo E viver por um segundo apenas Não há como amar sem sofrer em um mundo louco E ninguém interessado em repartir viverá sem curar um arranhão profundo Você pode conseguir alguma coisa em troca de uma nota de cem E você pode quebrar a bolsa apenas cruzando os seus braços A vida é uma aposta que está na janela Você pode reinventar o mundo Não deixe que o poder quebre a sua vontade e o seu coração Não deixe que os vilões fiquem com sua alma e nunca se entregue sem lutar Já é tempo de saber: Cada vez que você acorda Mais alguém ganha uma nova chance Eu e você vivemos no outro E somos um só Eu sei que o dia parece escuro Mas ainda temos muito tempo pela frente E se eu pudesse pedir algo a você Eu o encorajaria até o fim E nunca o abandonaria

Cantar é um jeito de ser livre

A minha mãe cantava no coral da igreja E me levou para lá Os ensaios de sábado Eram disputados E foram muitos dias De louvores ao senhor E cantar É um jeito de ser livre Você me entende? A minha mãe sempre bebia Uma taça de vermute Quando chegava do culto E me dizia sempre: Você deve servir a Deus Meu filho Mas como um bom homem Não faça pouco caso do diabo

O mistério me chama

Fico atento Anoto Aprendo e penso Faço um chimarrão bem cevado E me planto diante do experimento A chuva cai mansa Vez ou outra um pássaro canta Ponho mais um palheiro em minha conta A fumaça purifica o ar e o espírito Ateio um punhado de folhas sobre o braseiro E os odores esparramam-se diante da paz O labor me envolve E me encanta O tempo não para E o universo vibra

A chuva não vai embora

No horizonte, vejo uma barra azul feita de chuva grande e insistente. Faz outono em pleno verão. Sinto o vento gelado. Fecho a janela basculante. Sirvo um pouco de pinga. E me sento na poltrona ao lado da pia em minha cozinha. Bebo um gole da malvada e percebo que meu peito aquece. Tomo em minhas mãos O acrobata pede desculpas e cai – do fabuloso Fausto Wolff. É um livro que releio seguidamente. Fausto faz parte de meu cardápio literário costumeiro e nem sei quantas vezes já reli sua obra. Vou direto ao capítulo 29. Tenho a impressão de que revigoro minha alma ao passar meus olhos por tais linhas nada estranhas. É sempre bom reafirmar os próprios votos diante de um mundo insano. Ouço a chuva que bate no telhado de zinco. Está mais forte. Parece uma bateria lascando rock and roll. Realmente, a chuva não vai embora. E no mais, agradeço ao Velho Lobo por tudo e por todo sempre.

Diante do Cemitério

Em um dia nublado E de profunda tristeza Envolto pela chuva fina E um sobretudo preto Peguei-me diante do cemitério Em meu âmago Uma sensação diferente Chamava-me Fiquei em dúvida por alguns instantes Até que dei o primeiro passo Na direção do portão E tão logo adentrei em meio às lápides Senti uma presença mais triste do que a minha E diante da grande cruz Um espírito sem cabeça Estendeu seus braços em minha direção E embora decaptado Eu podia ouvir a voz que emanava daquele corpo: Onde está a minha cabeça? Eu preciso dela para descansar A voz insana petrificou minha alma E ainda atordoado com o fato Eu não sabia o que responder ou mesmo fazer Foi quando algo em meu âmago Levou-me a ajoelhar-me diante da atormentada alma E inspirou-me a dizer: Preserve o seu coração Alma amiga Pois a cabeça Nem sempre é o mais importante E neste instante Uma luz amarela Envolveu a alma perdida E a levou para o alto do céu Fiquei embas...

É 2021

Não alimento mais plataformas com posicionamentos arbitrários, duvidosos e reacionários. É uma convicção que tenho. Muita gente me diz que vou perder amigos e contatos profissionais por conta desta decisão. Mas, eu não acredito nisso. Amigos e contatos sabem onde podem me encontrar. Após anos e anos sendo massacrado por algoritmos desleais, resolvi excluir tais plataformas e operar onde sou tratado de acordo com o que me cabe. Afinal de contas, depois de um baú cheio de publicações e serviços editoriais prestados, creio que devo levar tal situação em conta. Cansei de algoritmos incapazes de identificar o que é um trabalho artístico e o que é um comportamento nocivo. Portanto, em 2021 pretendo manter este blog, e meu perfil no Recanto das Letras, atualizados. Sejam bem-vindos. Um grande abraço, sorte, luz e literatura, sempre!

Você vai votar no PT por que quer que a gente vire a Venezuela?

O título desta crônica é autoexplicativo. Depois de nosso presidente Jair Bolsonaro inflamar seus apoiadores contra a Venezuela, Manaus – em crise por conta da falta de oxigênio gerada pela inabilidade de nosso governo em administrar a pandemia de Covid-19 –, recebe oxigênio de quem? Acertou quem disse: Venezuela. É o que eu chamo de morder a língua. Certamente se nossos bolsonaristas tivessem um pingo de senso crítico pediriam perdão ao nosso vizinho. Pois é, parece que o neoliberalismo de Bolsonaro não atende a nenhuma expectativa. Enfim, eu poderia tocar uma flauta mais longa neste texto, mas não creio que seja necessário ou oportuno por conta da seriedade do assunto. É por isso que quando aponto as falhas do nosso desgoverno e alguém comenta defendendo o nosso presidente eu simplesmente ignoro o comentário. Acho que a realidade também é autoexplicativa, não é mesmo?

Não é só despreparo, é muita falta de vontade

Eu não participei das manifestações de 2013. Desde o início, sentia o cheiro ruim. Sabia que uma articulação política estava em andamento. E sabia que inflamar uma grande massa era possível. Eu sempre soube que a grande mídia que apoiou o golpe, fosse para lucrar, fosse para ter audiência ou mesmo para influenciar na eleição seguinte, não tinha nada de inocente (embora tenham virado a casaca, rapidinho, quando a água bateu em sua bunda). A gama de veículos e pessoas ligadas a políticos notórios sempre foi enorme. Eu também sabia que a justiça era seletiva em nosso país. Sabia que o investidor quer retorno, quando pensa em injeção de dinheiro. Sabia que o resultado da eleição seria o retrato da semelhança. Eu também sabia que não existe consciência de classe. E a partir do momento em que Jair Bolsonaro chegou ao poder falando em Deus e destilando aberrações eu farejei o futuro como se pudesse prevê-lo. Eu já conhecia o comportamento hipócrita que nos cerca desde cedo. Eu sabia das manob...

Neste momento

Fumo um palheiro feito com palha de milho e tabaco orgânicos, que ganhei de presente de um amigo, em companhia de um bom chá de ora-pro-nóbis, também orgânica, que cultivo aqui em casa mesmo. E, ao tempo em que provo estes sabores, escrevo esta crônica. Pretendo falar a respeito deste instante, com a mais absoluta sinceridade. E o que posso dizer: é que observo a chuva mansa, através da basculante, e me sinto bem. Estou envolto de prazeres e me pego a pensar sobre a vida. Não sei o que o leitor pensa, mas acho que se pode encontrar um momento de paz e satisfação, neste mundo louco, ao tempo em que se cultiva simplicidade. A vida é simples e árdua. Acho que é aqui que está o segredo de tudo, na simplicidade do labor, do cotidiano e de seus sabores. Tenho encontrado satisfação, em meus dias, com base nas pequenas coisas. No sabor de ler. De fumar. De experimentar um chá. De editar. De escrever uma crônica ou mesmo de revisar um texto. De filtrar um adubo estonteante. Esta é a soma sagrad...

Eu e você, um produto?

Fala-se que, em plataformas digitais modernas em que não se paga para ter acesso, somos o produto. Até aí tudo bem, a partir do momento em que tenho de comunicar-me como desejo. O problema começa quando me torno produto e consumidor ao mesmo tempo. Não existe marketing sem uma via de mão dupla e tampouco um canal de comunicação. Enfim, vivemos a era do boi.

Uma pequena crônica antissocial

O Facebook é a empresa mais cínica e perversa que eu conheço. Por quê? Simplesmente porque ou a gente concorda com sua política ou não tem acordo. É impossível esperar bom senso ou limite por parte do “voyeur azulzinho” e seus algoritmos nada sociáveis ou éticos. Contudo, não contava com arrego por parte dos mesmos, que representam o sistema faminto por nossas almas. Eu confiava mesmo era que os usuários de internet fossem menos narcisistas e mais inteligentes, já que se consideram livres. Os blogs estão esquecidos pela maioria, os e-mails não são acessados e o vício em si mesmo é algo que equiparo com a dependência em crack. Não se escreve e tampouco se compreende 140 caracteres. O resultado é tremendo. A literatura, o conhecimento e o saber perdem espaço. De um lado temos o estupro da mente e o jogo duplo consentido por parte do usuário. Na direção oposta, o hermetismo. Eu prefiro o hermetismo. Afinal de contas, “os lábios estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento”, tal qual...

Embaixo do céu

passei muitos dias em terras secas olhando o horizonte beijar a areia quente eu fiz um lar no meio do nada e um amigo embaixo do céu a fogueira aqueceu minhas noites e a natureza ao meu redor me fez parte dela eu vivo como vive um arbusto e gosto de uivar olhando a lua eu já fui um cervo e hoje em dia eu vivo na pele de um lobo eu já morri tantas vezes que nem ao menos sou capaz de contar acho que meu coração bate e minha alma me perturba o tempo é infinito e vagamos pelo universo eu acredito que a terra nos engole e que o céu nos recebe